quarta-feira, 21 de outubro de 2009

comunidade dos pedais

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Brasília, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Comunidade dos pedais

Pesquisa aponta que a cidade, entre os núcleos carentes do DF, é onde existe maior número de bicicletas por família. Quase 25% delas tem pelo menos um exemplar em casa

· Leilane Menezes

Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press


Lourival do Valle Nascimento, Lucas de Queiroz Ribeiro, Rafael Almeida e Vinícius Augusto: estudantes utilizam o transporte de duas rodas durante a maior parte do tempo


O Recanto das Emas é a região com o maior número de bicicletas por família entre as cidades mais carentes do Distrito Federal. Dados da Pesquisa Domiciliar Socioeconômica de 2009 realizada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) apontam que 24,3% das residências da cidade possuem pelo menos um exemplar desse meio de transporte. Outros 7,5% dos grupos familiares têm duas ou mais bicicletas. A comparação foi feita entre as 15 regiões com renda mais baixa do DF. Quando o assunto é a posse de bens, a Codeplan elabora o ranking levando em consideração cada domicílio e não o número total de habitantes. A conta feita assim é mais eficiente, segundo a coordenadora da Coordenação de Estudos e Pesquisas da Codeplan, Iraci Moreira. “O bem é de toda a família. As pessoas compartilham os objetos como bicicletas e carros”, explica Iraci.

Em segundo lugar em número de bicicletas está o Riacho Fundo II, onde 23% da comunidade usa esse veículo, mas onde nenhuma família tem mais de uma. A medalha de bronze de cidade onde mais se utiliza o meio de locomoção em duas rodas é do Itapoã, onde 20,3% das casas contam com a presença desse equipamento. O Gama é a região na qual as famílias menos possuem bicicletas: ela foi encontrada em apenas 0,8% dos lares pesquisados.

A quantidade de domicílios visitados varia em cada cidade – para estabelecer uma proporção, nas localidades maiores, mais casas receberam a visita de pesquisadores. No Recanto das Emas, foram visitadas 3.097 residências. “Escolhemos apenas os bairros nos quais as famílias ganham até dois salários mínimos per capita e consomem até 80kw/mês de energia. Esse perfil faz com que nosso público seja a classe média baixa”, relatou Iraci.

Pessoas como o repositor de mercadorias de um supermercado Lourival do Vale, 28 anos, encaixam-se no perfil dos usuários de bicicletas no Recanto das Emas. Ele vai ao trabalho todos os dias pedalando. Além de levar em consideração os benefícios para a saúde, Lourival pensa no bolso. “Eu ganho a passagem de ônibus no meu serviço, mas economizo para comprar o leite das crianças”, diz, mas adverte: “O problema é que não temos ciclovias na cidade. Tenho que andar entre os carros e pelas calçadas”. Em grande parte dos comércios, há bicicletários lotados. Os funcionários fazem a mesma opção de Lourival.

Os estudantes do Recanto das Emas também já perceberam as vantagens de usar a bicicleta. Rafael Almeida, 17 anos, sai de casa todos os dias em direção a Taguatinga Norte. São em média 15km percorridos. “Levo em média 40 minutos para chegar ao Senai, onde tenho aulas de acessórios automotivos”, afirma Rafael. E ele não vai sozinho: tem a companhia do amigo Lucas Queiroz Ribeiro, 16 anos, que também estuda em Taguatinga. “Daqui para lá não há ciclovias, é muito arriscado”, pondera. Vinícius Augusto Almeida, 15 anos, acompanha os colegas até a saída do Recanto das Emas. Quando tiver de deixar a cidade para estudar, ele também pretende usar a bicicleta. “É algo muito comum aqui no Recanto”, avalia Vinícius.

Preocupação
O levantamento da Codeplan teve como gancho a proximidade dos 50 anos de Brasília. A principal preocupação dos pesquisadores foi destacar as principais necessidades dos moradores das regiões mais pobres. “A pesquisa revela a realidade de uma parcela de nossa população que deve ser prioridade de toda e qualquer ação que tenha por objetivo a promoção do desenvolvimento no âmbito do DF. Os resultados procuram oferecer elementos para a atuação dos órgãos do complexo administrativo local”, esclarece o presidente da Codeplan, Rogério Rosso, na introdução do estudo.

O estudo chegou às mãos dos administradores regionais das cidades do DF. Cada um deve analisar os dados e pensar em soluções para atender a comunidade. No caso do Recanto das Emas, a divulgação dos dados sobre o número de bicicletas resultou na preocupação em construir ciclovias e promover campanhas de educação no trânsito. Mas os projetos ainda estão no campo das ideias. “Existe um plano do GDF de lançar em um mês a obra de uma ciclovia de 35km de extensão nas avenidas principais do Recanto das Emas. Elas vão ser interligadas com os dois terminais de ônibus que existem nas quadras 510 e 400/900”, garantiu o administrador Stênio Pinho. “Queremos incentivar o transporte alternativo e coletivo. Com o lançamento da ciclovia, vamos educar a população para a conscientização sobre o uso dos equipamentos de segurança e direção defensiva. Vamos propor parcerias para aplicação de cursos pelo Detran”, finalizou.

Levantamento localizado
A pesquisa aborda questões relativas aos domicílios, inventário de bens, serviços domiciliares e benefícios sociais. Foram também levantadas as características gerais de migração e de educação dos moradores, além de terem sido mapeadas informações sobre trabalho, rendimento, gênero, raça, religião, entre outras.

Ranking da pobreza
A Codeplan mapeou as 15 cidades mais pobres do DF. São elas: Gama, Brazlândia, Planaltina, Paranoá, Ceilândia, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e II, Varjão, Estrutural, Sobradinho II e Itapoã.

Novos valores
Confira a relação das
cidades com maior número
de bicicletas por domicílios pesquisados.

1º Recanto das Emas (24,3%)
2º Riacho Fundo II (23%)
3º Itapoã(20,3%)
4º Estrutural (18,2%)
5º Paranoá (17,9%)
6º São Sebastião (17,5%)
7º Sobradinho II (16,2%)
8º Ceilândia (14,6%)
9º Varjão (14%)
10º Samambaia (12,5%)
11º Santa Maria (12,4%)
12º Planaltina (12,1%)
13º Brazlândia (10,5%)
14º Riacho Fundo I (7,3%)
15º Gama (0,8%)

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