segunda-feira, 9 de novembro de 2009

carros demais!

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Brasília, domingo, 08 de novembro de 2009

TRÂNSITO
É carro demais

Frota de Brasília terá crescimento recorde em 2009: pelo menos 80 mil carros entrarão em circulação apenas este ano. Quantidade de motos triplicou desde 2001

· ADRIANA BERNARDES

Carlos Silva/CB/D.A Press


EPTG, saída do Guará, às 7h50 de sexta-feira: um dos gargalos do trânsito

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press


Antônio atribui o excesso de carros à má qualidade do transporte público


O Distrito Federal vai bater, este mês, o recorde de registro de carros, motos, ônibus e caminhões. A frota atual é de 1.127.260. Desse total, 72.142 veículos (6,3%) começaram a circular entre janeiro e outubro. Mantido o crescimento médio, até o fim de novembro o Departamento de Trânsito (Detran) terá registrado cerca de 80 mil novos veículos somente em 2009, contra 74.371 ao longo de todo o ano passado. O ritmo acelerado vem acompanhado de congestionamentos cada vez mais frequentes, além da falta de lugar para estacionar e da piora da qualidade do ar, além da poluição sonora.

Na capital do país, a relação carro por habitante está entre as mais altas do Brasil. Atualmente, é de um veículo para cada 2,3 moradores. Na casa do engenheiro eletricista Antônio Soares, 56 anos, a proporção é ainda maior. São cinco adultos, cada um com seu carro. E na rua onde ele mora, o caso dele não é exceção. “Aqui há cerca de 40 casas. A média de carros é de quatro por residência. Ao todo devem ser uns 150 carros”, calcula. “Em casa somos em cinco adultos, sendo que quatro têm ocupação profissional em locais diferentes no Plano Piloto. Não vejo nenhuma iniciativa do governo para colocar transporte público onde eu moro”, observa.

Antônio relata que no Lago Norte o ônibus circula apenas na avenida principal (DF-009). Moradores das QLs teriam de caminhar cerca de 2km até a pista principal para pegar o coletivo. “Ninguém deixa o carro em casa para andar à noite, debaixo do sol ou chuva para usar ônibus velho, com higiene repugnante e que não é pontual. Esses são três quesitos para conquistar a credibilidade dos usuários”, defende.

Esses problemas não ocorrem apenas no Lago Norte. A secretária Isabel Cristina dos Santos, 35 anos, trabalha a 5km de casa, no comércio do Sudoeste. O percurso é feito de carro, mas poderia ser de ônibus. “Até tentei. Mas eles (ônibus) não passam no mesmo horário. Se chegar atrasada, perco o emprego”, diz. Já Ana Maria Oliveira Santos, 22 anos, não tem opção. A moradora de Valparaíso (GO) trabalha como cabeleireira em um salão do Sudoeste. Sai de casa às 6h para chegar no emprego às 8h30. Nem sempre consegue. “Ônibus quebra, não passa. Essas coisas. E o preço é absurdo”, reclama.

Maior crescimento
Levantamento do Correio junto aos Detrans de sete capitais, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, revela que de 2001 a 2009 — período em que todos os órgãos consultados têm a estatística fechada —, Brasília é a capital que registrou o maior crescimento percentual da frota de carros e de motos. Em 2001, havia 521.337 carros registrados. Em outubro deste ano, são 845.219 (62,1% a mais). Já a quantidade de motocicletas saltou de 35.302 para 119.951, incremento de 239,7%, no mesmo período (veja arte). O Distrito Federal tem a maior renda per capita do país. E esta é uma das explicações para que se registre aqui uma das maiores taxas de crescimento da frota do Brasil.

Comparado aos engarrafamentos de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, os congestionamentos nas pistas de Brasília são pequenos. Mas testam diariamente a paciência do brasiliense em vários pontos do DF. Caso do caminhoneiro Cláudio Gomes, 38 anos, o “Seu Madruga”. Há quatro anos e meio, a rotina dele é exatamente a mesma. Mas ele não pode dizer o mesmo do trânsito.

Ele transporta brita de uma fábrica de cimento na DF-150, na região da Fercal, para Águas Claras. Na quinta-feira última, estava parado no acostamento na altura do balão do Colorado. “Estou esperando o engarrafamento acabar. É mais negócio eu esperar todo mundo descer para depois seguir viagem. Evito acidente, canso menos a cabeça, as pernas e evito desgaste do caminhão”, justifica.

O tempo de espera para o fluxo de carros diminuir chega a 30 minutos, às vezes mais. “Quando comecei não tinha esse engarrafamento. Agora, pego trânsito na porta da fábrica. Quero mais é que chegue 2015 para ir embora para o Nordeste. Envelhecer aqui é loucura. É trânsito demais. Você anda com a adrenalina à flor da pele”, diz.

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